Desacorrentadas – Martha Medeiros

Resumo do texto publicado na Revista do Globo deste domingo:
O Amor liberta? De certa forma sim. Amar faz você desprender-se da razão, incorporar novos hábitos, expandir seus sentimentos. De fato, é bem poético e libertador amar.
Mas tem seus contratempos. A convivência entre duas pessoas nem sempre é uma calmaria,
concessões são feitas, alma gêmea não existe.
Ainda assim, é melhor estar amando. Ao menos até uma determinada idade.
Reportagens enaltecem o amor aos 70, 80 anos, dizendo que nunca devemos encerrar as buscas pelo amor. Merece, mas tenho ressalvas a fazer.
Estou sem a menor pressa de que o tempo passe, mas vai passar e, quando eu chegar ao 60 e tantos, bem saudável, independente e com espírito de juventude, pretendo curtir a vida mais do que já curto hoje. E não haverá problema em estar sozinha. Quem tem amigos não se aperta. Amigos de diversas áreas e idades variadas, gente com a cabeça aberta, bem informados, humor tinindo, existe turma melhor? Depois de uma noitada regada a ótimas conversas, você volta para casa, pega seu livro, se esparrama na cama e dorme até a hora que quiser. Além de amigos, ter algum dinheiro ajuda, lamento tocar nesse assunto desagradável. É ele que possibilitará que você viaje, vá a shows, receba gente querida em casa, se presentei com pequenos mimos.
Sim, você pode fazer tudo isso com um parceiro do lado, mas não na hora que você bem entender e sem dar satisfações. Tudo terá que ser negociado. E será preciso abrir espaço em sua agenda para os amigos e família dele, as carências, as doenças e as galinhagens dele.
Será que, maduríssima da silva, terei tempo e paciência para me dedicar à manutenção de uma relação nova? Tendo que me preocupar com o corpo, as artimanhas da sedução e o sexo. Ai, o sexo... sentirei saudades.
Poético e libertador é pensar que nunca estarei sem ninguém, porque chega uma hora em que a gente decide que é Alguém, e basta.